21 abril 2010

A mulher do outro




A melhor amiga dela fez anos e convidou-nos aos dois para jantar no sábado. Chama-se Cristina. Trabalhou connosco há cerca de cinco anos atrás. Ela e a Margarida (que também vai ao jantar) são as pessoas que estão a par de toda a situação. Conhecem o marido da Sofia, mas sabem da minha existência. Acho que a Sofia lhes conta tudo sobre nós.

Foi impressionante a ginástica acrobática praticada para eu poder ir a esse jantar. A estratégia incluía, certificar que o Miguel não estaria presente, (ou melhor, ele nem seria convidado) e por outro lado, tirar “o cavalinho da chuva” ao Alberto,  cuja presença seria inconveniente. A Margarida lá conseguiu arranjar maneira de impedir que o marido fosse ao jantar. Teve a desculpa dos miúdos. A Sofia teve de garantir que o Miguel se iria naturalmente aborrecer, já que o jantar eram só mulheres. Faz de conta...

Para não variar, fui dos primeiros a chegar. Só lá estava a Cristina e uma amiga que eu não conhecia, mas que não perdeu tempo a tentar convencer-me a tornar-se minha gestora de conta. Ficou bastante impressionada com a quantidade de bens (ou melhor, empréstimos) que eu possuía e algo excitada quando lhe falei da casa do Algarve (não chegou a perceber que tudo aquilo pertencia à minha sogra). Tirando a aniversariante e a prima da Sofia, não conhecia mais ninguém (nem queria); não foi isso que me levou ali. Mas a ansiedade até que a Sofia chegasse era tal que, expectante, devo ter despertado o meu lado social para disfarçar o nervosismo.

Chegou com a Margarida. Vinha deslumbrante. Tinha ido ao cabeleireiro e renovou o visual. Surpreendeu todos e a mim em particular pois apareceu com cabelo castanho. Fiz um esforço sobre-humano para não suscitar quaisquer suspeitas. Achava eu. Mas durante o jantar, ela sussurrou-me: controla-te…, enquanto me molhou secretamente a orelha.  

Apeteceu-me gritar: - A Sofia é a minha mulher

Mas não é.

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