20 abril 2010

8 horas




Ao longo da minha vida tive várias mulheres e, na maior parte das vezes, serviam apenas para me satisfazer, sendo o prazer delas remetido ao esquecimento. Com a Sofia é diferente. Fazer amor com ela é parar o mundo e o tempo. É divino. Preocupo-me com o que ela gosta. Estou atento às suas fantasias. Desvendo as suas zonas mais sensíveis. Desfruto do seu cheiro. Perco-me na sua pele. Não tenho pressa e gasto cada minuto a sentir o prazer no seu corpo. Esse prazer que nunca tive com mais ninguém.

Encaixamos um no outro como se de um único ser se tratasse. O único problema é que precisamos de pelo menos oito horas, o que torna os nossos encontros amorosos deveras escassos. Perdemo-nos em beijos e carícias. Divagamos sobre nós, a vida, os filhos, falamos dos amigos, da chuva, do sol, da forma das nuvens. Rimos. Comemos. Abraçamo-nos, e ficamos em silêncio, na tentativa de compensar o vazio que sentimos, a angústia de não nos termos.

Mas na cama, como em tudo, nunca nada nos chega. Somos dois corpos em alvoroço. Duas mentes em efervescência constante. Queremos sempre ir mais longe.Queremos sempre mais.

No auge da excitação de um desses encontros, no êxtase do momento, desejou que ali estivesse outro homem. E murmurou-o baixinho. Não sei se por não compreender o que dizia ou não querer crer no que ouvira, a ideia repugnou-me. Imaginar a presença de um homem no meio de nós causou uma sensação no mínimo constrangedora.

Porém a mente leva-nos por caminhos misteriosos. E se é verdade que não desejo partilhá-la, não posso negar que esse devaneio me causa um misto de excitação e irritação. Tantas vezes a imagino com outros que compactuar com o segredo revelado aguça a minha curiosidade.

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