03 maio 2010

Shiuuu



O marido da Sofia teve de se ausentar de Portugal por uns dias, o que permitiu que nós combinássemos um programa. Surpreendi-a com dois bilhetes para um concerto de final de tarde na Gulbenkian e combinámos jantar cedo em Lisboa sem planos concretos para depois. Quando estamos os dois, agimos com tanta naturalidade, somos tão nós, que até nos esquecemos que somos amantes.

No final do jantar entrou no restaurante o João, um ex-colega da clínica que não víamos desde o jantar de despedida do Francisco. Ficámos tão constrangidos com a situação que, descaradamente convidei-o a sentar-se à nossa mesa. Quando pediu mais uma garrafa de champanhe, não sei porquê, senti-me coagido por esse gesto. Foi como se tivesse de partilhar o segredo, numa atitude de  pagar o seu sigilo. Divorciado, estava mais magro, mas continuava com a boa disposição que o caracteriza. O João é um tipo inteligente, que está de bem com a vida, tem um sentido de humor refinado e por isso o tempo foi passando sem darmos por isso.

Sabia de antemão que me iria arrepender de o convidar a sentar-se. É o tipo de pessoa por quem a Sofia se deixa seduzir. Não demorou muito até que um certo ciúme tomasse conta de mim, pois a química entre eles era inquestionável. Trocavam o olhar e tocavam-se como se isso não os satisfizesse. Fingindo-me distraído, vi-o debruçar-se sobre ela, num movimento lento e prolongado.  O tempo abrandou naquele momento. Irritou-me que ela não se desviasse quando ele quase a beijou na boca.

Que lhe terá segredado na despedida?


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