28 abril 2010

A tua metade





Às vezes apanho o Pedro distraído e fico a olhar para ele. 
É bonito, penso. 
Não sei precisar o início da nossa guerra. 
Não sei dizer ao certo há quanto tempo isto dura... se dois, três, cinco, sete anos? 
O que posso dizer é que ele nunca desistiu de conquistar o meu amor. 
Acredita que sou a metade da sua laranja. 
Devia estar grata por ter um amor como o dele. 
Porque sei que é raro ter um amor assim. 
E no entanto declarei-lhe guerra. Tenho medo.
Sou injusta? Talvez. 
Ele dá-me mais a mim do que eu a ele? É possível, não sei. Só ele poderá dizer.
Está lá quando é preciso, e tenta dar-me espaço sempre que pressente que me falta o ar. Dá-me forças para enfrentar o dia-a-dia. 
É bom acordar e pensar que, não tarda, estará a meu lado. 
Quando não está sinto uma dor no peito. Uma dor tipo “A”.
Há dias que quase me permito convençer que o amo.
Perco a força para continuar a lutar pelo meu casamento.
Mas existem momentos em que não consigo disfarçar e só me apetece correr para ele, abraçá-lo, beijá-lo e dizer que o amo verdadeiramente. E não o posso fazer. 
Não gosto de lhe aumentar o ego. 
Mas não é só por isso. Não gosto de falar dos meus sentimentos. 
Só que o Pedro consegue captá-los nos gestos, nos olhares, nos pensamentos, no silêncio.
Enfrento uma luta interior constante para não pensar que é com ele que quero estar e largar tudo.
Será que ele sabe?

Quando tento convencer o Pedro de certas coisas, estarei a convencê-lo a ele ou a mim?



21 abril 2010

A mulher do outro




A melhor amiga dela fez anos e convidou-nos aos dois para jantar no sábado. Chama-se Cristina. Trabalhou connosco há cerca de cinco anos atrás. Ela e a Margarida (que também vai ao jantar) são as pessoas que estão a par de toda a situação. Conhecem o marido da Sofia, mas sabem da minha existência. Acho que a Sofia lhes conta tudo sobre nós.

Foi impressionante a ginástica acrobática praticada para eu poder ir a esse jantar. A estratégia incluía, certificar que o Miguel não estaria presente, (ou melhor, ele nem seria convidado) e por outro lado, tirar “o cavalinho da chuva” ao Alberto,  cuja presença seria inconveniente. A Margarida lá conseguiu arranjar maneira de impedir que o marido fosse ao jantar. Teve a desculpa dos miúdos. A Sofia teve de garantir que o Miguel se iria naturalmente aborrecer, já que o jantar eram só mulheres. Faz de conta...

Para não variar, fui dos primeiros a chegar. Só lá estava a Cristina e uma amiga que eu não conhecia, mas que não perdeu tempo a tentar convencer-me a tornar-se minha gestora de conta. Ficou bastante impressionada com a quantidade de bens (ou melhor, empréstimos) que eu possuía e algo excitada quando lhe falei da casa do Algarve (não chegou a perceber que tudo aquilo pertencia à minha sogra). Tirando a aniversariante e a prima da Sofia, não conhecia mais ninguém (nem queria); não foi isso que me levou ali. Mas a ansiedade até que a Sofia chegasse era tal que, expectante, devo ter despertado o meu lado social para disfarçar o nervosismo.

Chegou com a Margarida. Vinha deslumbrante. Tinha ido ao cabeleireiro e renovou o visual. Surpreendeu todos e a mim em particular pois apareceu com cabelo castanho. Fiz um esforço sobre-humano para não suscitar quaisquer suspeitas. Achava eu. Mas durante o jantar, ela sussurrou-me: controla-te…, enquanto me molhou secretamente a orelha.  

Apeteceu-me gritar: - A Sofia é a minha mulher

Mas não é.

20 abril 2010

8 horas




Ao longo da minha vida tive várias mulheres e, na maior parte das vezes, serviam apenas para me satisfazer, sendo o prazer delas remetido ao esquecimento. Com a Sofia é diferente. Fazer amor com ela é parar o mundo e o tempo. É divino. Preocupo-me com o que ela gosta. Estou atento às suas fantasias. Desvendo as suas zonas mais sensíveis. Desfruto do seu cheiro. Perco-me na sua pele. Não tenho pressa e gasto cada minuto a sentir o prazer no seu corpo. Esse prazer que nunca tive com mais ninguém.

Encaixamos um no outro como se de um único ser se tratasse. O único problema é que precisamos de pelo menos oito horas, o que torna os nossos encontros amorosos deveras escassos. Perdemo-nos em beijos e carícias. Divagamos sobre nós, a vida, os filhos, falamos dos amigos, da chuva, do sol, da forma das nuvens. Rimos. Comemos. Abraçamo-nos, e ficamos em silêncio, na tentativa de compensar o vazio que sentimos, a angústia de não nos termos.

Mas na cama, como em tudo, nunca nada nos chega. Somos dois corpos em alvoroço. Duas mentes em efervescência constante. Queremos sempre ir mais longe.Queremos sempre mais.

No auge da excitação de um desses encontros, no êxtase do momento, desejou que ali estivesse outro homem. E murmurou-o baixinho. Não sei se por não compreender o que dizia ou não querer crer no que ouvira, a ideia repugnou-me. Imaginar a presença de um homem no meio de nós causou uma sensação no mínimo constrangedora.

Porém a mente leva-nos por caminhos misteriosos. E se é verdade que não desejo partilhá-la, não posso negar que esse devaneio me causa um misto de excitação e irritação. Tantas vezes a imagino com outros que compactuar com o segredo revelado aguça a minha curiosidade.

17 abril 2010

Mãe Sofia


A Sofia é uma pessoa excepcional. Fala com o director do hospital ou com a senhora da limpeza da mesma forma e com o mesmo encanto. Logo, para além do chefe e do primo, ainda levo com uma série de pessoas que querem estar com ela, limitando ainda mais as possibilidades de estarmos a sós. 

Já para não referir o marido, elo mais forte da nossa condição. Minto, o elo mais forte é mesmo os seus 3 filhos.

Às vezes penso que se ela não tivesse filhos as coisas seriam tão diferentes…


À mesa com ela




Chegou o dia do jantar de despedida de um colega! Uma daquelas raríssimas ocasiões em que conseguimos sair juntos à noite. O único problema é o Alberto, casado com a única prima da Sofia. Para além do parentesco que obriga o Alberto a fazer parte da família dela, agora trabalham no mesmo piso, o que dificulta bastante a nossa existência como amantes.

Como se não bastasse o constante assédio por parte do chefe dela (que além de ser espanhol acha que pode fazer e dizer aquilo que lhe vier à cabeça como se dono dela se tratasse), debatemo-nos com o facto de ter que andar a despistar ou a fugir do Alberto para conseguirmos estar a dois. Habituou-se à ideia de tomar café e almoçar connosco todos os dias no refeitório, e agora nada podemos fazer para lhe tirar isso da cabeça.

Saímos directos do hospital para o restaurante onde iria decorrer o tal jantar de despedida do Francisco. Pessoa distinta no nosso grupo de trabalho que nos fazia assumir as nossas funções e responsabilidades de uma forma única. Porque o respeitávamos, não quisemos faltar. Chegámos juntos. O Alberto estava sentado e simpaticamente guardara dois lugares ao seu lado, que eu teimei em ignorar. Mas a alternativa recaía nas cadeiras próximas do chefe da Sofia. Irritado, dei o prazer ao primo. Durante o jantar as nossas pernas tocaram-se várias vezes. Pude sentir o seu corpo, a sua pele, a sua temperatura sem que ninguém desse conta. Um dos grandes prazeres que tenho por estar sentado a seu lado.

Olhámo-nos. Ambos sabíamos que não era ali que queríamos estar. Sabíamos também que poderíamos sair dali e aproveitar para estarmos um pouco os dois antes de voltar, cada um a sua casa. Só teríamos de despistar o Alberto, que não é tarefa fácil pois o rapaz havia de teimar, mais uma vez, em escoltar a prima até casa. Às vezes, quando já não aguento mais, sou bruto com ele e depois levo com a Sofia porque o coitadinho do Alberto ficou sentido. Chiça!


14 abril 2010

Odeio Pic-Nics



Saímos do stress do hospital à hora de almoço e fomos dar uma volta. Doía-lhe a cabeça e permaneceu de olhos fechados o tempo todo. 

- Estou cheia de fome mas não me apetece comer... sabes como é?- perguntou.  Melhor que ninguém, pensei... e sorri-lhe. Acabei por entrar no supermercado mais próximo para improvisarmos um pic-nic num sítio calmo. Percorri algumas ruas sem rumo certo e acabei por estacionar perto de um cemitério. 
- A Raquel tinha razão quando falava da paz e do silêncio que ali se respira, disse ela. Concordei.

Quando abriu os olhos uma orgia de flores do campo abraçou-a. Mas haviam umas cor-de-laranja que eram diferentes. Quis tocá-las. Parei o carro. Observei-a com um sorriso parvo, enquanto ela colhia distraída um molho de flores silvestres.  Escolhi o pão que mais gosta, barrei-o com queijo, duas fatias de Salmão e finalizei com umas folhas de rúcula. Depois atei o ramo como pude, estava lindo como ela. Mais tarde viria a descobrir que eram Papoilas Douradas da Califórnia. 

Sentámo-nos à beira da estrada, de onde se avistava o palácio de Sintra. Não falámos, apesar de ambos termos escutado as "Dunas" no rádio do carro. Não era importante. Quando estou com a Sofia todas as músicas me parecem apropriadas. Olhei-a e disse que a amava. Esperei. Ela pôs um ar desprendido e disse: 
- A ti não sei, mas a mim está a saber-me lindamente.   

Beijo




Ontem foi dia do beijo.
Por isso não houve tempo para um novo post. 
Estive muito ocupada.
A beijar e a ser beijada.
Beijámo-nos muito.
E o mais gostoso dos beijos sabem qual foi?
Aquele que foi trocado mil vezes com os olhos antes de chegar à boca.
Esse... foi demais...